PROÉMIO OU CERTIDÃO DE NASCIMENTO EM DUPLICADO
Embora em tempo serôdio, acabou de nascer, comigo, a minha obra. Seremos só uma e um em simultâneo. Ou gémeos falsos, portanto. Mas coesos. Duas existências saídas de um ovo comum. Paralelas, pois, e todavia derivantes. Como quaisquer amantes, apesar do incesto, em recíproca oferenda de complementaridade até ao fim do fim. E com juramento e tudo. Sangue com sangue. De mãos dadas, na vida e na morte, até que a terra se esqueça de que nem a teríamos pisado ao deitar os pés à estrada atrás de nós. O punho e a voz. O tento e a pena. Invento e avena a tosar à solta por quantos prados nos tentem. Ou espelho e imagem sem original defronte. Quadro em busca de prego e parede onde dependurar olhos desatentos. Boi e arado revolvendo a brutidão comestível de quem por acaso nos leia, que não do pão para dentes liquefeitos.
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