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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sexta-feira, 5 de maio de 2006

DA ARBITRARIEDADE À INVERSÃO DOS FACTORES

Numa rua quase deserta, mal iluminada e já fora de horas, o homem sensato encontrou-se com um homem que o não era. Sensatamente, cumprimentou-o, como se soerguesse a copa de um chapéu que nem trazia, e procurou seguir adiante. O insensato, todavia, tolheu-lhe o passo e a intenção, implantando-se-lhe à frente, de dedo esticado e apontado ao peito, qual espadachim em pose de arranque.
“Tu nem trazes chapéu”– diz o do florete, acutilante que nem escárnio ante a denúncia do rubor. Mas estava escuro de mais para que o rubor se lhe visse, e que importância teria ter chapéu ou não?
Foi ali encontrado, na manhã seguinte, pelos varredores camarários. Deitado de costas em pleno lajedo, estava ele nu da cinta para baixo e tinha esse ar feliz de quem morra a olhar as estrelas, de contas feitas consigo ainda em vida. O insensato, como se deduz, pois um homem sensato não se poderia perder, fora de horas, em ruas mal iluminadas e desertas. E nunca por nunca ser sem chapéu.