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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sexta-feira, 5 de maio de 2006

CINEMATOGRAFIA DE MANIVELA E LAMPIÃO

O boné branco do chefe de estação fez ouvir a senha, o maquinista silvou a contra-senha, e o comboio partiu, devagar, chiando manso sobre a lisura quase impoluta dos carris. Na gare, como é costume, fica em quem fica aquela sensação de pequenez ante o irremediável, ao ver a gorda serpente metálica a arrastar-se pela noite adentro. E quando ela, a serpente, desaparece da vista, por sua vez engolida pela treva, queda-se no ar o pesadume do dever cumprido a contragosto, mas também o alívio da palavra “FIM” em fim de filme. Não haverá novos episódios a projectar-se em tempos futuros? Não se repetirá esta cena da estação, agora em sentido inverso, com o comboio a abrandar e a resfolegar de tédio ao parar a marcha, qual cobra obesa a vomitar os mil e um escaravelhos que engolira algures? Esperemos que não. É sempre problemático repetir falas e expressões cujo teor tresande a mofo desde a primeira edição da fita em cena, até que outro comboio, ou outra serpente, se faça diluir na aguarela da noite, qual final de filme cujo impacto nos mereça aplausos de pé.