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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sábado, 7 de outubro de 2006

CRUZEIRO À ILHA DE LESBOS VOGANDO EM BARCA SERRANA

Consta, nos anais boca-orelha coligidos, há já várias gerações de indiferentes, do confessionário até à sacristia, que aquelas duas se comem. E é pena. Num dos dois casos colocados sob espreita, trata-se tão-só da mais bonita e graciosa papoila ali nascida algum dia: a neta do tanoeiro.
Homem de bem e de bens à vista, senhor de seu nariz sempre empinado acima do desdém concorrente, sapiente e ardoroso no apego à velha arte de fazer tonéis e dornas desde a alva ao lusco-fusco contrário, decerto morreria de mágoa se alguém, por malevolência ou inveja, lhe desse a beber o cálice de uma tão odienta notícia. Algum dia virá, todavia, em que tamanho escarro lhe cai aos pés de maneira inequívoca, e ele tudo fará para lhe determinar a origem. E aí, há-de ser o fim, como soe dizer-se, com algum herói desprevenido a apanhar em plenas ventas com a enxó do ofício.
E no outro caso, não tão deplorado como o primeiro, trata-se da filha do farmacêutico, uma tábua de engomar, pernilonga, celibatária e imune, até ao presente, ao aguilhão de eventuais remoques deambulantes. Já houve quem a assediasse, lá isso houve, com proposições ditas sérias de romance a consagrar como é sabido, perante o altar. Mas nenhum dos candidatos logrou resistir à prova real, prescrita pelo pai, onde se veriam obrigados a renunciar por escrito à fortuna de que, sabiam, a noiva se encontraria vestida naquela data e nas seguintes, na saúde e na doença, até que a morte os separasse.
Quase sempre juntas, onde estiver uma, estará a outra, ou de lá próxima. E onde se lançar aos ecos um alarido em formato de riso de fêmea sob artificiosa pertinência, logo outra risada lhe repisará a cauda com igual sobrepeso de artifício, ou seja o burburinho manifesto através de cacarejos de capoeira por duas frangas em muito boa ocasião de ir à faca, uma delas, e a dar quando muito para uma canja sem grande substrato nem gemas de ovo como prémio, a outra.
Haja arroz carolino a contar com quantos sejam, haja vinagre do bom ao dispor, dê-se lume ao caldeirão para se dar alma e consistência à fervura, e a breve trecho também por aí haver sangue bastante para que uma bem apurada cabidela comece a fumegar nos pratos e nos narizes mais atrevidotes.
Assim a enxó do tanoeiro esteja ali à mão.