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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

terça-feira, 8 de agosto de 2006

DO FUMO NAS CHAMINÉS AO NAUFRÁGIO EM TERRA SECA

O pastor, lá nas alturas apontadas a nascente, com um assobio e dois ou três brados de cajado a zurzir lã, juntou o rebanho e orientou-o em direcção à mata de carvalhos e castanheiros na encosta, escapando-se com as ovelhas e o cão ao braseiro do sol, sem parecença com nenhum outro desde que se inventou a memória.
Recostado em penedos tão ricos de sombra que até o musgo os amacia, puxou das mortalhas e da onça tabaqueira, começando entre bocejos o ritual de fazer o primeiro cigarro do dia. Depois, de maneira tão lenta como o desejo de pensar em algo mais que o perceptível à vista, sacou do isqueiro e deu lume ao inigualável prazer da primeira baforada, de narinas a fumegar, impantes, que nem chaminés de navio mal acabado de partir para a viagem inaugural.
Parece que o cão e as ovelhas, por instinto de sobrevivência, já teriam regressado, pouco a pouco, até onde o sol dardejava, alheios à sombra da mata de carvalhos, castanheiros e penedias com musgo, no instante em que o pastor voltou os olhos bem para dentro de si e deixou cair na folhagem ressequida o cigarro feito à mão.