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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sábado, 6 de outubro de 2007

O CRIME DO SENHOR QUE NÃO SABIA O QUE O FILHO DELE SABERIA

O homem ainda conseguiu atingir o cimo da ribanceira, mas dali já não passou. Quer em corrida, quer a gatinhar, quer de rastos, a ziguezaguear e agachado ao rés das ervas, vinha em fuga de alguém ou de alguma coisa. Fosse do que fosse, fosse de quem fosse, deveria ser algo de aterrador, tal a expressão ainda retida pelos olhos quando deram com ele, alguns dias depois. E foi uma criança que o descobriu.
“Ó pai o que é aquilo?”− perguntou o garoto a quem o levava pela mão, farto de saber que era um corpo, que estava morto e há quanto tempo.
O pai é que não sabia que o filho sabia, e respondeu então ao inquiridor que aquilo só poderia ser um corpo humano, e que talvez tivesse sofrido um acidente, e que o mais aconselhável seria que desaparecessem dali bem depressa…
A polícia chegou logo a seguir. Parecia até que andava por ali perto, à espreita e à espera de que alguém tropeçasse naquilo e, como lhe competiria, chamasse de imediato a autoridade e fizesse a denúncia. Porém, para quê e por que meios chamar quem já dali estava tão próximo? E que ninguém tocasse em nada, adentro do espaço logo delimitado pela fita de plástico bicolor, as cores da polícia, cinzento e azul.
Descoroçoante para quem trabalha− diriam todos os agentes ligados ao processo− foi o facto de o juiz não ter autorizado a continuação da prisão do miúdo, implicado que estaria, com toda a certeza, na efectivação do crime. Assim, não puderam descobrir qual a origem da expressão de terror mantida pelo homem, alguns dias depois, quando o encontraram, no cimo da ribanceira, onde ele ainda conseguira chegar, em corrida, a gatinhar, de rastos, agachado e aos ziguezagues.
com o pai, não houve contemplações. Viu-se condenado por não ter chamado, de imediato e como lhe competiria, quem já dali estava tão próximo, a autoridade policial encarregada de desvendar aquele mistério. E para isso é que lá estava a fita, de plástico e bicolor, cinzenta e azul.