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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

SERIAM TÃO-SÓ UNS DEZ MENINOS AOS SALTOS MUITO LADINOS

É este andar assim, em deambulações, erradio, que lhe turva os pensamentos e o perturba. Ou será essa perturbação, pelo contrário, que o obriga a andar de tal modo? O useiro dilema do cão em corrida atrás da cauda. Mas se assim não andasse, perturbado embora, de que outra maneira andaria? E se não o perturbasse andar como anda, que outro desgaste daria ele aos neurónios relativos a perturbações interpostas por andar não importa como? De roda, de gatas, às arrecuas, aos pulos, à marrada, que diferença tonitruante viria a fazer do magote em marcha acelerada a caminho do emprego e ainda para cá do sol trescorado, ou nos delírios da bola sem um cêntimo na algibeira, ou de joelhos na missa dominical, ou pelas estradas fora e de rastos onde o comércio de milagres dita leis e se faz hipotecar o reconforto?
Um bom cálice de conhaque à moda antiga, e eis a questão de ser ou não, em justa medida, ande como ande quem em si se instale e moureje, capaz de reconquistar o equilíbrio. Se bem que, por vezes, nem com meia dúzia de cálices se consegue já restabelecer um sentido viável nos passos dados e a dar. Daí, causa e consequência, toda essa perturbação de canídeo com perceptíveis sintomas de esgana, sempre a correr sem correr, num desvairo, atrás de si mesmo.
“Mais um, por favor”−, sussurra ele ao bigode servil, como se falasse consigo através da própria reflexão naqueles olhos de bovino à espera de vez no matadouro.
E já será o sétimo, numa contagem a fazer pelos dedos todos, sem sobras, amanhã, com o desconsolo da ressaca a servir de mortalha ao arrependimento, tardio e inútil como o remorso de quem morra mergulhado no despautério de viver em cada dia, de uma só vez, quantos dias lhe sobejem.
“E vão dez”−, rosna-lhe às tantas o servilismo bigorrilhas, de olhos mansos como facas ainda no bolso, cinco minutos após o nono e dez depois do oitavo. Tratando-se de cálices, como se adivinha, e não dos soluços de quem os carrega.
Turbação, perturbação, conturbação: o enjoo e a vertigem de vagas marinhas em seco e nada mais, é o que é. E não é pena que nas mãos só se contabilizem cinco dedos em cada qual e de cada vez que se contem?
(Guiães, 25-09-2007)