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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sexta-feira, 14 de julho de 2006

ANTEPROJECTO DE LIMPEZA POR CONTROLO REMOTO

Ao chegar lá acima, sentiu-se esmagado pela panorâmica. Aquilo iria muito além do que as perspectivas lhe fizeram crer. Até apetece viver num mundo assim, definido por um quadro de tal magnificência. Não haveria lugar para a melancolia, havendo ao dispor dos olhos, a todo o instante, uma benfeitoria como esta, em que a beleza e a imensidão se aliassem e se deixassem usufruir, sem nada exigir em troca.
O cimo do monte é uma penedia de granito, agreste mas bela, severa, nua, empolgante, que de repente desaparece na vertical descendente e só se torna a descobrir no fundo, a oitocentos metros ou mais. Só há um tosco carreiro, na vertente oposta, que até lá ao alto conduzirá quem tamanho arrojo se imponha como meta final. Dali para diante, só o vácuo da inexplicabilidade, se nem para as vertigens há-de haver tempo e disposição.
Se propensões tivesse para eremita, seria este o lugar fora do mundo que dentro do mundo escolheria como morada. Essas propensões, no entanto, vêm e vão com a mocidade, enquanto se creia ser possível a salvação do planeta e outras parvoeiras de similar insignificância em tal tempo de utopias e demais febres sem graça.
O que o trouxe aqui, hoje, num dia bonito, luminoso, transparente, de inexcedível nitidez para quem adore embevecer-se na contemplação da natureza? Alguma ideia tão fixa como a de não querer descer pelo mesmo carreiro, talvez tosco e rudimentar mas único, que o trouxe, passo a passo, desde o sopé mais rasteiro até aos píncaros desta velha indecisão a ganhar corpo e ensejo de se decidir de vez?
Não querendo descer pelo carreiro, como descer então? Só se for pela vertente quase vertical, de oitocentos metros ou mais, com os braços bem abertos como se fossem asas daquelas de voar a sério. Vamos lá, pois, antes que anoiteça e se ponha frio.