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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sábado, 1 de julho de 2006

PAISAGEM ONDE A POLÍCIA TAMBÉM VIRÁ A TER UM LUGAR AO SOL

Imagine-se uma ponte entre lado algum e nenhures. Por essa ponte, das cinco da tarde às onze e meia da noite, não passa ninguém. E nas restantes horas do dia, também não. Não há sequer uma ribeira que justifique a existência da ponte naquele lugar. E a estrada, paralela ao hipotético curso de água, a montante ou a jusante, se a houvesse, não faria grande falta, tendo em mente a inexistência de pés andantes no espaço visível em volta.
Uma árvore dá sempre muito jeito uma árvore, pelo menos, nestas histórias, onde só a imaginação dos pássaros não basta para que lhes escutemos o chilreio―, de geração espontânea num dos extremos da ponte, oferece sombra sem custo a quem sombras procure num local onde a luz, por acaso, não é lá muito abundante. Como já se disse, no entanto, não há sinais nas redondezas de pés inquietos por causa do calor ou por outra causa qualquer. E é pena, porque a árvore, de tão frondosa, parece disposta a durar outros cem anos, se o desemprego sem tabaco de algum isqueiro não parar por ali.
Imagine-se agora uma excepção em forma de automóvel. Estacionou por baixo da ponte, ninguém sabe como. Nem ninguém sabe como é que de lá sairá. Sabe-se apenas que lá apareceu, de noite, talvez com os faróis desligados para passar despercebido. E ali está ele, imposto por alguém que nem se sonha quem seja, a estragar a paisagem com os seus cromados rebrilhantes, a sua cor de fogo bem polida, os seus vidros fumados de espicaçar olhos curiosos de mais.
Esperemos que a polícia não demore e já traga o respectivo reboque.