CASA ROUBADA, TRANCA NO BICHO
O cão pressentiu algo, ou alguém, por detrás das sebes, junto ao muro que ao fundo delimita o jardim. Mas não ladrou. Preferiu estender-se ao comprido no chão, o focinho pousado entre as patas dianteiras, a espreitar ao nível da relva o que de lá pudesse aparecer. E que horas seriam? Uma ou duas da manhã, não mais. Fosse quem fosse, se fosse gente, já saberia que ele estava ali. Nunca foi segredo. E nem tentaria aproximar-se. É que não teria sequer oportunidade de se arrepender. Bastante esquisito foi, portanto, que ao romper do dia se descobrisse que a casa fora assaltada, durante a noite, e esvaziada de tudo o que nela haveria, de bom e de reles. Até as próprias camas e quem nelas se deitava, sem que o cão tivesse dado o alerta. E ali estava ele, como sempre esteve, estendido ao comprido, no chão, junto da casota.
Só que estava morto.
Mas como é que pôde morrer o que jamais viveu? Este cão nem era mais que uma escultura de pedra, que o dono―um judeu―comprara há alguns anos numa feira de velharias, daquelas de rua, pretendendo com ela aforrar os cobres da ração para o bicho.
Apesar de judeu, aproveitou a lição e mandou instalar um sofisticado alarme electrónico. E depois vendeu a casa e ficou só com o cão.
Mas como é que pôde morrer o que jamais viveu? Este cão nem era mais que uma escultura de pedra, que o dono―um judeu―comprara há alguns anos numa feira de velharias, daquelas de rua, pretendendo com ela aforrar os cobres da ração para o bicho.
Apesar de judeu, aproveitou a lição e mandou instalar um sofisticado alarme electrónico. E depois vendeu a casa e ficou só com o cão.
Há quem diga, do cão, que ele nunca aprenderá a ladrar.
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