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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

segunda-feira, 15 de maio de 2006

SABONÁRIA EM ÁGUA DO MAR VISTO CADA VEZ MAIS LONGE

O caderno em branco. A já familiar coceira capilar do caderno em branco. Apesar do lápis, mal acabado de aguçar e nele pousado. Em repouso, ambos. E dizer-se em branco, é dizer-se em vão, vazio, oco, inútil, nulo ainda. Ainda aquém do parco intento de ser impulso e gesto e substância e palco a pisar muito ao de leve, qual pas seul de cisne condenado à morte.
Talvez um toque de blues, no feminino, a açucarar a sonolência. Ella, Nina Simone, Diana Krall. O mar remoto a ondular até dentro de casa pela varanda. E o vento nem se vê. Domingo morno de névoas, sem pressa. De quando em quando, também pela varanda, a esterqueira sonora de um motor mais lesto no massacre. E um ou outro guincho de gaivota dizendo-se autorizada a zarpar do cais. O azul não é azul, mas cinza feita de trapos. Logo mais será castanho, quase rubro e roxo ao cair, sem forças, para lá da meta final. E se fosse verde?
Quanto ao caderno em branco, já não está. E só o lápis, esse sim, precisará de lixa ou de canivete e trato em conformidade. Que bom seria se se pudesse aguçar também o dom de pôr as ideias cá fora, no papel da rua, a arejar ou a corar ao sol. Mas hoje não houve sol que chegasse, pronto. Nem sabão.