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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sexta-feira, 21 de julho de 2006

O HÁBITO SÓ FAZ O MONGE CONFORME A ORDEM PALAVREIRA

O que ele queria era ter um novo carro. Fosse qual fosse a marca ou o modelo, desde que fosse novo. Pouco lhe importaria não arranjar casa a tempo do casamento já na rampa. E talvez nem o perturbasse assim tanto perder a namorada, noiva, futura mulher. Nem nada o afligiria ficar no desemprego o resto da vida. Ou que a família lhe desse com a porta na cara e o ignorasse. Ou que os velhos amigos o abandonassem sem a menor explicação comportamental. Ou que o seu clube descesse até à subcave dos distritais. O fundamental era conseguir o privilégio de ter um novo carro, novinho em folha.
Fatídico seria que perdesse, como perdeu, a hipótese de fazer um belo casamento com uma lindíssima mulher. Assim como se adivinhava já que a breve espaço ficaria sem o razoável emprego que tinha. E seria de prever que toda a família desistisse de lhe alimentar as veleidades e os caprichos sazonais. E que nem os amigos de infância superassem tamanha obstinação em ele se vestir de automóvel a estrear.
o clube lhe perdoou a indiferença comparativa, ganhando a taça no dia em que ele enfim comprou o carro.
Mas como antes não tinha carro algum, velho, meio usado ou pintado de fresco para que novo lhe parecesse, também desta feita, ainda que tivesse comprado um carro novo, não comprou um novo carro.