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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sábado, 22 de julho de 2006

DO SEGURO A MORRER DE VELHO AO QUE SEM ELE FAZ NASCER

O orgasmo apanhou-o, por mais que porfiasse em segurar-se, quando mal acabara de se entranhar nas profundas da floresta. E agora, que remédio senão procurar manter o aprumo, disfarçando a ocorrência e reformulando a porfia, rebuscando imagens sensuais arrecadadas na memória, mergulhando até aos antípodas num passado sempre farto e generoso, ou condescendente, em experiências como esta. É sempre bem mais gratificante a conquista, quando antes dela for obrigatório arreganhar garras e dentes para que a mesma se dê e a peça de caça caia sem bulir no matagal.
Ora, seguindo a talhe de foice, como soe dizer-se por aí, e por falar de experiências, faltar-lhe-á ainda sofrer o pânico de querer ter-se de pé e não ter o quê, quando perante algo cuja imponência não se amofine com falências de nervo ou de espírito. Até hoje, por fortuna, nunca se sentiu Tântalo a morrer de sede à beira do riacho, querendo saciá-la e já nem boca tendo para tal.
Este outro caso, no entanto, em que a sofreguidão desata os nós e dá ordem de ataque à marinhagem antes da hora, já aconteceu noutras alturas, aqui ou além, sem que a estrutura estremecesse no instante de restaurar o equilíbrio das forças em parada. Mas isso era naquele tempo em que ao mínimo ensejo de matar a mosca, morria a mosca e nem uma asa de protesto se lhe ouviria.
Hoje, já a conversa é outra. Outras são as referências. Outros valores fazem crescer ou definhar intento e acção correlativos, sob vigilância apertada de quem tal acção por tal intento não queira ver encoberta e substituída, seja qual for a desculpa invocada: sono ou cansaço, fome ou fartura, fastio ou carência de engenho motor.
“Não me digas que usaste sempre o mesmo preservativo durante uma noite inteirinha”―, diz alguém a alguém, já de manhã, mal o sol abriu a janela e deu a ver, em simultâneo, um rosto ainda afogueado, talvez ainda aquém do rescaldo de consumação do incêndio nocturno, e um outro a fingir que dorme, sorrindo, de pazes feitas consigo.