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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sábado, 6 de janeiro de 2007

ARRANJO DE FLORES APENAS COM UMA ROSA E CAMPESTRE

Um ano depois, e continua linda. Talvez o tempo corrija mais o olhar mensurador que o objecto mensurável, ensinando-o a ver pormenores a que nunca antes prestara, por obra e graça da sofreguidão, a justeza de uma homenagem resumida à sua verificação atempada. E quem sabe se o objecto, neste caso à vista, não terá agora cúpidos propósitos de demonstrar quão estúpida cegueira lhe teria desvanecido a imagem haverá um ano, mostrando-se por inteiro perante olhos liquefeitos, sem vergonha alguma de por eles se saber despida até ao mínimo pêlo a referida imagem na nudez da rua.
Também acontecerá, nesta idade, que cada dia acrescentado a quantos dias já lá estão, no lugar de deteriorar, engrandece, aperfeiçoa, sublima. E tudo o que nasce lindo, lindo há-de vir a corroer-se, com maiores ou menores retoques de restauro e de conservação, ao minimizar a crueza do efeito denominado por tempo de vida, esse mal-assombrado necrófago sem alma nem sindicato mas com as quotas em dia.
E como será daqui a uns dez, vinte, trinta anos? O transcurso existencial assemelha-se a uma curva parabólica, ascendente e descendente, em que o momento de atingir o apogeu será o mesmo que precipita a descida. E quanto mais depressa lá se chegar às cumeadas, mais depressa de lá se há-de tombar na estupefacção de cãs e rugas e artroses de mãos dadas. Assim será um dia, e nem muito distante, com certeza. Mas não por enquanto, isso não.
Ei-la, um ano depois. E como ela continua linda.