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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

terça-feira, 7 de novembro de 2006

GOTA A GOTA EM RELÓGIO DE ÁGUA JÁ UM TANTO ADIANTADO

Fecha os olhos, num gesto arrastado, como se fosse o sono a comandar-lhe o sistema nervoso. Não é o sono, todavia. Será sobretudo a própria vontade a negar-se os últimos resquícios de luz, afinal inútil, e assim calar o ardor que lhe arrastará os olhos à falência, que não vergonha, das lágrimas. Um homem não chora–, sussurra-lhe a infância relembrada entre caretas semelhantes às que a dita meninice nele fez soletrar e vincar por dentro. E porque é que um homem são não há-de chorar quando lhe apeteça, quando precise, quando urja despejar as caleiras dos beirais sensitivos? – pergunta-se ele a si mesmo, em voz de pano, fechando a desbocada torneira da memória e não reabrindo os olhos à perseguição do ardor luminoso de que renega a mordedura, não vá cair na esparrela de ainda se dar ouvidos e de seguir os próprios conselhos.
Não se responde, contudo. Questões haverá cujo afloramento à superfície das águas mentais (com a inevitável metáfora da lama emboscada lá no fundo) é bastante ao embaraço que as inflige, dispensando a resposta e quedando-se em suspensão, à deriva. Aliás, sabe-se que não é senão essa a razão de ser da sua proposição sustentada por preconceitos gastos de velhos, mas vivos ainda, ainda pesados, medonhos de estarrecer.
Dormir é preciso. Durmamos.