CRÓNICA DE NOVA MORTE ANUNCIADA EM VERSÃO MÍNIMA
Nenhum dos amigos mais de dentro. Nenhum dos colegas de trabalho com quem por força das contingências profissionais mais convivesse. Nem a mulher, companheira na cama fiel da fruição de quantas noites de sono ainda o embalem, todas ou quase. Nem mesmo as amantes, duas ou três, de remota data ou de alternâncias tão recentes como a incógnita de as trazer saciadas, ou tão-só acomodadas. E nem o mais anónimo dos figurantes obrigados ao palco desta indestrinçável tramóia a que se chama, com alguma pompa para ofuscação de nódoas, vida comum. Ninguém, por delicadeza, se dera ao cuidado de o ouvir. Ninguém se apercebera do recado inscrito nos olhos, primeiro, bem como na fuga ao assombro de outros olhos em amistosa auscultação, depois, e, por fim, nas palavras.
“Eu irei a enterrar no próximo sábado”– dissera ele, com um sorriso sem remetente nem endereço certo, ao chegar a casa, vindo do emprego, e ao chegar ao emprego, vindo de casa; ao sentar-se à mesa, no café, entre crónicos comensais da bola e de gado fêmeo a marcar de ferro em brasa; e ao dar um pulo, numa única jornada, a cada um dos diversos covis nocturnos onde o nome dele era senha de acesso e consumo.
Que ninguém dissesse que ele não tinha dito, de forma clara e transparente, que pensamentos o mantinham. Que ninguém ousasse o subterfúgio de se proclamar inocente em relação à notícia posta por aí a esvoaçar sem que asas houvesse. E que ninguém viesse a justificar a falta sob caução de uma pontual ignorância, quando até o coveiro fora avisado da conveniência de afiar a ferramenta, considerando a actual falta de chuva e a pressuponível rijura dos torrões a desfazer.
Hoje, sexta-feira, dia aziago para quem em tais manhas gaste o tento, não faltarão vinte e quatro horas para que o desígnio se faça cumprir em conformidade. E ele aí está, no esquife, já emalado, bem composto e bem afogado em flores sem aroma nem borboletas a fazer pela vida.
Estando ele a olhar lá por detrás das pálpebras não se sabe o quê, o que pensará fazer, se algum dos inúmeros notificados faltar ao cortejo desde há dias anunciado para amanhã?
“Eu irei a enterrar no próximo sábado”– dissera ele, com um sorriso sem remetente nem endereço certo, ao chegar a casa, vindo do emprego, e ao chegar ao emprego, vindo de casa; ao sentar-se à mesa, no café, entre crónicos comensais da bola e de gado fêmeo a marcar de ferro em brasa; e ao dar um pulo, numa única jornada, a cada um dos diversos covis nocturnos onde o nome dele era senha de acesso e consumo.
Que ninguém dissesse que ele não tinha dito, de forma clara e transparente, que pensamentos o mantinham. Que ninguém ousasse o subterfúgio de se proclamar inocente em relação à notícia posta por aí a esvoaçar sem que asas houvesse. E que ninguém viesse a justificar a falta sob caução de uma pontual ignorância, quando até o coveiro fora avisado da conveniência de afiar a ferramenta, considerando a actual falta de chuva e a pressuponível rijura dos torrões a desfazer.
Hoje, sexta-feira, dia aziago para quem em tais manhas gaste o tento, não faltarão vinte e quatro horas para que o desígnio se faça cumprir em conformidade. E ele aí está, no esquife, já emalado, bem composto e bem afogado em flores sem aroma nem borboletas a fazer pela vida.
Estando ele a olhar lá por detrás das pálpebras não se sabe o quê, o que pensará fazer, se algum dos inúmeros notificados faltar ao cortejo desde há dias anunciado para amanhã?
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