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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

EXPERIÊNCIA À LUZ DE QUANDO O SOL SE PÕE E SE LHE IMPÕE A LUA

Num belíssimo fim de tarde, embora gélido, em que o sol, ao despedir-se, enrubesce e oferece raios e sombras respectivas rente ao chão, sempre se dirá um desperdício estético matar alguém. Esta há-de ser mais a hora dos poetas não suicidas, da meditação reconstrutora, da quotidiana evasão através de grades mentais onde os sonhos sonhem ter corpo de gente e fome de vida ou sede de ser, como se queira.
Se pelo menos o sol já se tivesse ido embora de vez e a friúra do crespúsculo já estendesse as mãos à da noite, aceitar-se-ia como de mais veloz compreensão e até plausível a atitude de empurrar alguém das alturas do sem regresso de um abismo, por exemplo; ou de lhe despedaçar a caixa craniana com um qualquer martelo de orelhas, ao estilo de quem enfrente uma noz mais contumaz que a dentuça comilona; ou de à navalha lhe pôr as tripas todas à dependura da incredulidade, tardia, de já não ter mãos que as devolvam ao seu lugar habitual, ali mesmo por detrás do umbigo.
Todavia, porque tanta luminosidade pode cegar a firmeza de propósitos que o guião original reclamará, pode um autor, às tantas, ver-se tentado a destingir as intenções e a incutir-lhes uma menos agressiva coloração, passando do breu recôndito ao cinza de após labaredas, ou do clamor sanguinolento ao rosa virginal em línguas mudas. E a não matar ninguém, pronto.