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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

EM CHÁVENAS ESBEIÇADAS DE VELHAS À HORA DO CHÁ DAS CINCO

Sabia-se, há cem anos, que ele não chegaria a velho. A nunca bem explicada maleita que lhe levara o pai, bem como o avô e o bisavô e o pai dele e o pai do pai dele e por aí abaixo, até aos primórdios da treta da maçã mordida no pomar original pelo nosso primogénito, o levaria também. Morreu aos cinquenta anos, na data em que os completou. E porfiou em deixar por escrito, em documento lavrado e reconhecido num tabelião, para clara informação de quantas gerações vindouras acerca do tema se perguntassem, a notícia desta fatídica sentença já milenária: nenhum varão nascido no ventre da família viveria mais do que meio século. Ou um dia que fosse, uma hora, um pérfido minuto contado ao contrário, como no lançamento de foguetões contra a paz do firmamento, para dar mais ênfase ao acto de devolver ao pó, pela totalidade, aquilo que no pó terá tido gestação e aparadeira. E se já se sabia, há cem anos, que ele não dobraria o cabo do meio século, foi só esperar e tomar nota de mais um caso na história.
Também se cumpriu o anunciado, entretanto, no respeitante ao filho dele, que ao atingir as cinco décadas se fez ao oceano das trevas, por onde hoje andará a navegar à bolina, decerto, consoante quem o evoque. E sobre igual rota e contra ventos semelhantes zarparia o neto, à hora de não ir adiante, haverá já vinte e cinco anos de ondas enroladas em si próprias como tão bem sabe mandar a natureza.
“Eu sou bisneto. Farei hoje cinquenta anos, às cinco horas da tarde, e penso dar uma festa. Não quereis vir?”