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CONTADOR DE HISTÓRIAS E HISTORIETAS E PETAS E TRETAS DE ENTRETER INSÓNIAS A GRANEL OU POR ATACADO

domingo, 25 de fevereiro de 2007

DE ONDE E QUANDO TER-SE OUVIDOS E NARIZ NÃO É BASTANTE

O tema em debate, caído sem o menor anúncio sobre a mesa e por todos aplaudido, se se não tiver em conta o magote dos que sempre espiolham de esquina, é o da infinitude de boas e más hipóteses a explorar, sem quaisquer pruridos científicos no trato e no intento, nas indecisas profundezas do pantanal representado pelo palavrão idiossincrasia. Que não se tenha por imprescindível elevar ao cosmos o nível de quantos, sem saber, se vejam tomados por cobaias. Dir-se-á até que o mais avisado será não avisar ninguém, ou seja a ninguém requerer licença prévia, acerca de quem se observe ou se comente esta ou aquela característica, aquela ou esta coluna a derrubar na desconstrução consequente deste tipo de conversas. Há que evocar exemplos, exemplares, espécimes determinados pela raridade dos seus contributos entre irmãos de conspirata, em tudo calibrados pelo mais comezinho. Abaixo a vulgaridade e acima o que salte à vista dos olhos, do olfacto, do paladar, do ouvido e do labor dos dedos e demais pele das extremidades com específica função táctil bem demonstrada.
“Lembro-me muito bem dele. Era alfaiate, e tinha o ordinário costume de se peidar, sonoro e agreste, na presença de quem quer que fosse. Sobretudo diante da clientela, inadvertida, no momento de tirar medidas ou de pôr os fatos em prova. Mais entretela menos chumaço, e lá vinha um peidinho a atestar a qualidade da fazenda de lã pura. Ora veja-me lá esta riqueza, esta maravilha de obra, que lhe cai mesmo a matar, nem uma ruga. E zás, aí vinha outro, do caos da criação, a ribombar e a encarpelar-se em eco nos tímpanos boquiabertos do freguês, enquanto o mestre artífice de alfaiataria, um devoto convicto de Santo Homembom, padroeiro da classe, se persignava de boca vedada, de propósito, por meia dúzia de alfinetes presos nos lábios. O riso dele, só para dentro, estava todo nos olhos, lacrimejantes, e no tom rubicundo das orelhas”.
A conversa caiu, como almejariam todos, se se exceptuarem os cujos cuja vocação é sondar de esguelha, na temática mais aprazível, quando o que aqui se imponha seja tão-só intervir, acrescentar, sacolejar mandíbulas, pôr os cães à bulha, deitar lenha ou água conforme o estado das brasas, e no fim sair do prélio aos ombros de quantos à sombra se mantiveram, fosse por opção, fosse por insuficiência de gás.
“Também me estou a lembrar da história do polícia sinaleiro que encaminhava o trânsito a dar traques, com a curiosidade de se tornarem bem mais perceptíveis através das contorções fisionómicas, nele, do que, em quem cá de baixo lhe seguisse a sinalética, pelo olfacto ou pelo ouvido”.
"Mas o que é que essa coisa da idiossincrasia tem a ver com a peidorrice?”–, ouve-se perguntar, numa voz meio virada às avessas por ninguém ter dado grande importância ao que ele mal chegou a perguntar, um oposicionista ao regime imposto pela mesa comandante dos trabalhos.
Convirá informar que a coluna dos cépticos no respeitante ao assunto em debate, os de olhos em viés desde o princípio, foi engrossando, pouco a pouco, e promete generalizar-se. Assim sendo, ninguém se desfaz em protestos, não, quando um dos principais mentores da retranca em relação à temática se põe de pé sobre a cadeira e pede a palavra à mesa, para, com dois peidos de monstruosa contundência, desses de pano grosso a fazer-se ouvir num único rasgão de lado a lado, encerrar, em apoteose de foguetório, esta assembleia.
Em nenhuma das conversas, à saída, reaparece à tona o tema proposto na ordem do dia como único objecto de discussão e análise. E ouvem-se, a espaços, até os grupelhos formados se esfumarem noite adentro, alguns disparos, secos, besuntados de gargalhadas também decrescentes, da facção dos cépticos, vencedores indubitáveis da peleja.